Um inimigo poderoso
- Luiz Carlos Hauly
- 28 de ago. de 2008
- 3 min de leitura
A vigilância de nossas fronteiras é um desafio proporcional à sua extensão e complexidade. Multipliquem-se 16,8 mil quilômetros por 10 países e adicionem-se florestas tropicais, pampas, rios, pastagens e simples avenidas (marcos divisores em várias localidades) e teremos um universo de dificuldades que, naturalmente, se caracterizara como um universo de facilidades para os adeptos da contravenção.
O Sivam – Sistema de Vigilância da Amazônia - é o mais complexo, moderno e eficiente aparato de controle de nossa fronteira norte, aparentemente a mais vulnerável, por se localizar na Amazônia. O Sivam é formado por uma rede de vigilância eletrônica e esquadrilhas de Tucanos e Super-Tucanos. O uso de aviões para o tráfico de drogas na Amazônia diminuiu significativamente após a entrada em operação do Sivam, cuja instalação, no entanto, ainda não foi concluída.
O governo começa agora – antes tarde do que nunca – a dedicar mais atenção à nossa fronteira com a Argentina e o Paraguai, notadamente para a região de confluência das três, conhecida como Tríplice Fronteira e polarizada pelas cidades de Foz do Iguaçu, Ciudad del Leste e Puerto Iguazú.
Resultado de uma convergência de esforços dos três países e com o acompanhamento dos Estados Unidos, será criado o Centro Regional de Inteligência, com sede em Foz do Iguaçu e com a participação dos serviços de segurança, inteligência e defesa desses países. A instalação do centro de inteligência, por envolver questões diplomáticas complexas, está sob a coordenação do competente Itamaraty.
Embora não haja ainda uma data definida para o centro de inteligência iniciar suas atividades, o anúncio de sua criação e os preparativos para torná-lo realidade chegam em hora mais do que oportuna. É antiga a presença de malfeitores brasileiros em território paraguaio, mas a consolidação naquele país de “sucursais” das duas maiores facções criminosas – o PCC e o Comando Vermelho, este com sede no Rio, aquele capitaneado em São Paulo – fizeram acender o sinal vermelho nos dois países vizinhos.
Alarmadas com a ostensividade dos membros do Comando Vermelho em seu território, notadamente na região de Pedro Juan Caballero, as forças de segurança do Paraguai desencadearam uma ampla operação contra esses criminosos, que acabou denunciando também o aparato que o PCC vem montando naquele país. Criminosos foram presos e um impressionante arsenal destinado ao Brasil foi apreendido.
A instalação do Centro de Inteligência permitirá a ação conjunta das forças de segurança dos três países contra o crime organizado. E essa ação, da qual os Estados Unidos serão continuamente informados, desmistificará a crença, difundida por jornais inescrupulosos e congressistas mal-informados ou mal-intencionados do país do Norte, de que a Tríplice Fronteira abriga células terroristas árabes e é um importante centro financiador das atividades de grupos extremistas do Oriente Médio.
A presença em Foz do Iguaçu e em Ciudad del Leste de uma numerosa comunidade árabe, estimada em 12 mil pessoas somente na primeira cidade, deu origem a essa visão distorcida, que, apesar de todas os desmentidos dos governos dos três países – e do próprio governo dos Estados Unidos – é reiteradamente alardeada para satisfazer a interesses inconfessáveis do establishment norte-americano.
A comunidade árabe da fronteira merece respeito. E os bandidos e contraventores que utilizam a Tríplice Fronteira como um importante aliado, terão, finalmente, com o Centro de Inteligência, um inimigo poderoso.
LUIZ CARLOS HAULY é membro da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados
Comments